Só por hoje

Postado no meu facebook em 25/02/19




O ensino médio foi cruel para mim. Quando eu falo isso, meus amigos da época sempre se assustam, pois eu era uma garota comunicativa e brincalhona. Infelizmente, nenhum deles percebeu que aquilo era só um personagem, que eu criei para suportar os anos anteriores, de ensino fundamental onde ser esquisita não era aceitável.
Entretanto, foi graças a esse personagem do ensino médio que eu conheci vários amigos que eu levei para a vida, que eu me tornei forte e que eu aprendi a não deixar, nunca mais, ninguém pisar em mim.
Passei para a faculdade que eu queria, no curso que eu queria e fui muito feliz assim, apesar de todos os perrengues. Mesmo estudando em uma universidade pública, haviam muitos gastos, e eu trabalhava para estudar. Fui operadora de telemarketing quase a minha vida toda, e hoje, falo isso com orgulho. Antes, morria de vergonha. Sempre ouvia um “mas você é tão inteligente, como pode estar nesse emprego”, “estudou tanto pra isso”, e muitas outras coisas, mas foi esse emprego “inferior”, que pagou minhas despesas e me proporcionou luxos e manter uma vida digna. Já trabalhei com muita coisa, em maioria, todos os meus empregos foram sempre “inferiores”: vendedora, backoffice, consultora de vendas. Algumas vezes, eu conciliava mais de um. Há 14 anos, concilio todos os meus empregos com lecionar em uma ONG: aprendi que a vida fica melhor quando você ajuda os outros. E foram os meus empregos inferiores que me permitiram ter uma vida digna.
Aos 21 anos, no auge da minha carreira acadêmica, recém aprovada para uma bolsa de iniciação científica, trabalhando com que eu amava, veio o maior tombo de toda a minha vida: Minha mãe teve câncer. E nada, nada na vida se compara ao período de 2008/2009. Eu já quase morri muitas vezes (atropelamentos, doenças, acidentes), já passei muita dificuldade na vida (de não ter um real no bolso pra nada), já tive perdas que me doem até hoje, mas nada se compara a dor de ver uma das pessoas que você mais ama na vida, ser destruída por uma doença que consome a pessoa de dentro para fora, e como isso desestabiliza toda a família. E você não poder fazer nada, não apenas pela medicina, mas por você não ter grana, não ter expectativas. Eu fiz a única coisa que passou na minha cabeça que eu poderia fazer: eu fui forte. Quando toda a minha família chorou, eu não derramei nenhuma lágrima. Quando várias pessoas diziam que eu devia me preparar para o pior, eu dizia que tudo ia ficar bem. Quando até as pessoas que eu esperava que me ajudassem e entendessem sumiram, eu me mantive de pé. Eu não era forte, mas tinha de ser forte. Foram momentos muito ruins, que eu não consigo descrever, mas, em todos eles, naquelas horas mais ruins, sempre havia uma luz. E foi assim que eu entendi que, realmente, Deus só dá o que podemos suportar, e nunca nos abandona.
Depois que a minha mãe ficou curada (um período relativamente curto, mas muito, muito conturbado) eu tive estresse pós-traumático, febre reumática, problemas pessoais e foi um custo voltar a estudar. Meus amigos todos já estavam 4 períodos a frente de mim, e foi muito difícil retomar a vida. Foram os anos em que eu me destruí e me reconstruí, mas só lá em 2012 que essa reconstrução terminou. E hoje, eu olho para trás e percebo que, apesar de todo o sofrimento, esse período me trouxe muitas coisas boas, e um conhecimento que mudou todo o meu jeito de viver e encarar a vida.
Daí eu conheci um cara incrível, que mudou todo o meu conceito sobre amor e relacionamento, e casei com ele. Nosso relacionamento é maravilhoso, mas a vida não é fácil. Desde o nosso noivado ela nos prega peças, e a gente tem saído de cada uma delas, não sem dor, mas com muito amor. E vou te falar, não são peças pequenas não. E sempre, quando a gente chega num ponto em que tudo que a gente quer fazer é sentar e chorar, Deus sempre dá um jeito. E a gente fica assim: caramba, como foi que aconteceu?
Na minha carreira de escritora não foi nem é diferente. Deus sabe como é difícil e às vezes doloroso, mas sempre quando tudo está muito difícil, aparece um anjo, com um bálsamo de carinho para confortar meu coração.
Com tanta coisa, eu aprendi a encarar a vida de uma outra forma. Apesar do jeito e do gênio, hoje eu me acho muito mais tranquila. Ainda tenho medo e tenho vontade de chorar com os problemas, mas aprendi a ficar tranquila, acima de tudo. Um exercício que eu faço quando tá tudo muito ruim, é esse: eu relembro todas as coisas ruins que já passei, ou as piores, não para revivê-las, mas para lembrar que eu venci todas elas. E que cada cicatriz, interna ou externa, é a prova de que eu lutei e sobrevivi, saindo muito mais forte do que eu imaginava.
Eu aprendi a viver um dia de cada vez, e a confiar não apenas em mim, mas no Deus que aprendi a depositar a minha fé.
Na realidade, eu nem sei bem o motivo de escrever esse texto. Mas eu só queria dizer que, se alguém leu até aqui, saiba que você é um vencedor. Ninguém sabe as tuas lutas internas, os problemas diários, mas olha só, você sobreviveu a todos eles. Você encarou todos os seus dias ruins, e, mesmo ferido, saiu de cada um deles. Não dê ouvidos para os que torcem contra, ou estão sempre sendo negativos. Cada um oferece o que tem, e o veneno só nos faz mal, se a gente consumir. Livre-se dos venenos diários.
Então, seja o que for que te incomoda, isso também vai passar. Só por hoje, se concentre na pessoa forte que você é. Não há problemas em fraquejar. Só não se permita desistir. Só por hoje, resista 😊

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